segunda-feira, 22 de maio de 2017

A postura correta para sentar





Qual a postura mais correta ao sentar?


Você sabia que é normal ficar curvado ao se sentar, e que pessoas sem qualquer dor assumem essa postura rotineiramente? Isso é o que foi mostrado num estudo realizado com indivíduos sem dor lombar, realizado pela Universidade de Queensland, na Austrália (1). Participaram do estudo 50 indivíduos sem dor, que foram avaliados em sua postura ao sentar. O que foi observado é que a postura usada no dia-a-dia, ao sentar, por esse grupo de pessoas, era uma postura curvada, contrariamente à postura ereta, que normalmente é divulgada como sendo a "correta".



Outro estudo, dessa vez realizado na Universidade de Leuben, na Bélgica, analisou a postura sentada e em pé de 99 pessoas, todas assintomáticas (2). O que esse estudo concluiu? Que há uma variabilidade enorme das posturas entre as diferentes pessoas e, na visão lateral, não parece haver postura ideal. A postura relaxada, curvada, parece, de fato, usualmente assumida por pessoas sem qualquer sintoma lombar, como também observado num estudo realizado na Polônia (3) e em outro realizado na Irlanda (4).



Mais um estudo, dessa vez envolvendo pessoas com ou sem dores lombares foi realizado, no qual se mensurou a postura usual sentada de mais de 150 mulheres (5). E qual diferença foi encontrada entre aqueles com e sem dor lombar em relação à postura? Nenhuma. Ou seja, a presença ou não de dor lombar não se relaciona com a postura usual sentada.



Em geral, uma postura mais lordosada ou ereta da coluna lombar é considerada mais adequada do que posturas curvadas, e posturas curvadas ("slump") são consideradas como menos adequadas (6). Alguns profissionais consideram que posturas com baixo nível de atividade muscular podem ser as mais adequadas (7) e a postura curvada apresenta nível  de atividade da musculatura da coluna bem menor que as posturas com lordose da coluna, sendo que, quanto mais lordosada, maior o nível de atividade (8). Além disso, a postura mais curvada pode refletir uma forma natural do corpo de preservar energia (9). E a capacidade de uma pessoa assumir, sem auxílio, uma postura lordosada, pode ser bastante questionável (10).



Ou seja, sentar-se de forma mais curvada, mais "relaxada":

1. não parece relacionar-se com as dores lombares;
2. pessoas assintomáticas a assumem costumeiramente sem qualquer problema;
3. parece ser usada tanto por pessoas sem dor como por pessoas com dor;
4. exige menos atividade da musculatura da coluna (sendo que, para muitos profissionais, esse é um critério compatível com uma definição de postura mais adequada);
5. é fácil, natural de se ficar, especialmente em relação a posturas mais lordosadas; e
6. pode ser um meio natural de economizar energia.


O que se sugere é que não há porque ficar se policiando em relação a permanecer numa postura ereta ao se sentar. A idéia de que sentar-se de forma ereta seria mais benéfica para a saúde não se sustenta, pelo menos em relação às dores lombares, o que talvez fosse a principal preocupação. Sentar de forma um pouco curvada, perdendo a lordose da coluna lombar, pode ser apenas a forma que seu corpo encontrou de economizar energia. Não há nada de errado em utilizá-la, pessoas sem dor nenhuma a usam, e mesmo pessoas com dor a utilizam.



Portanto, esqueçam a idéia convencional de que se deve sentar de forma ereta, ou que se deve ter uma curva côncava, na coluna lombar ao se sentar. Muito provavelmente o conforto é o principal guia para se saber se você está sentando de forma "correta" e um padrão postural universal de como se sentar, muito provavelmente, não existe.




Referências Bibliográficas
1. Claus AP, Hides JA, Moseley GL, Hodges PW. Thoracic and lumbar posture behaviour in sitting tasks and standing: Progressing the biomechanics from observations to measurements. Applied Ergonomics. 2016 Mar;53:161–8. CLAUS et al (2016)
2. Claeys K, Brumagne S, Deklerck J, Vanderhaeghen J, Dankaerts W. Sagittal evaluation of usual standing and sitting spinal posture. Journal of Bodywork and Movement Therapies. 2016 Apr;20(2):326–33. CLAEYS et al (2016)
3. Drzaƚ-Grabiec J, Truszczyńska A, Fabjańska M, Trzaskoma Z. Changes of the body posture parameters in the standing versus relaxed sitting and corrected sitting position. Journal of Back and Musculoskeletal Rehabilitation. 2016 Apr 27;29(2):211–7.  DRZA-GABRIEC et al (2015)
4. O’Sullivan K, O’Dea P, Dankaerts W, O’Sullivan P, Clifford A, O’Sullivan L. Neutral lumbar spine sitting posture in pain-free subjects. Manual Therapy. 2010 Dec;15(6):557–61. OSULLIVAN et al (2010)
5. Mitchell T, O’Sullivan PB, Burnett AF, Straker L, Smith A. Regional differences in lumbar spinal posture and the influence of low back pain. BMC Musculoskeletal Disorders [Internet]. 2008 Dec [cited 2016 Sep 28];9(1). Available from: http://bmcmusculoskeletdisord.biomedcentral.com/articles/10.1186/1471-2474-9-152
6. O’Sullivan K, O’Keeffe M, O’Sullivan L, O’Sullivan P, Dankaerts W. Perceptions of sitting posture among members of the community, both with and without non-specific chronic low back pain. Manual Therapy. 2013 Dec;18(6):551–6.  OSULLIVAN et al (2013)
7. O’Sullivan K, O’Sullivan P, O’Sullivan L, Dankaerts W. What do physiotherapists consider to be the best sitting spinal posture? Manual Therapy. 2012 Oct;17(5):432–7.  OSULLIVAN et al (2012)
8. Claus AP, Hides JA, Moseley GL, Hodges PW. Different Ways to Balance the Spine: Subtle Changes in Sagittal Spinal Curves Affect Regional Muscle Activity. Spine. 2009 Mar;34(6):E208–14.  CLAUS et al (2009b) -
9. Hey HWD, Wong CG, Lau ET-C, Tan K-A, Lau L-L, Liu K-PG, et al. Differences in erect sitting and natural sitting spinal alignment—insights into a new paradigm and implications in deformity correction. The Spine Journal [Internet]. 2016 Aug [cited 2016 Sep 28]; Available from: http://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S1529943016308889 HEY et al (2016)
10. Claus AP, Hides JA, Moseley GL, Hodges PW. Is “ideal” sitting posture real?: Measurement of spinal curves in four sitting postures. Manual Therapy. 2009 Aug;14(4):404–8. CLAUS et al (2009)

Nenhum comentário: