O que o profissional que trata coluna lombar diz afeta (e muito) o paciente!
Um estudo realizado na Universidade de Otago, na Nova Zelândia, buscou verificar, justamente, como a informação transmitida pelos profissionais e de outras fontes, afetava os pacientes com dores lombares.
Para isso, entrevistas clínicas com pacientes que tinham dores lombares foram realizadas, gravadas e avaliadas posteriormente. Foi identificado que diversos fatores afetavam as crenças dos pacientes em relação às dores. Porém, a opinião do profissional era a mais importante.
Certos pacientes demonstravam muita incerteza, e queriam saber mais sobre o que tinham, qual o prognóstico e como prevenir ou lidar com recorrências. Os profissionais eram os que traziam mais confiança em relação às informações, seguido dos familiares e amigos e, por último, a internet. Ou seja, os profissionais ficam numa posição de muita influência. Ainda assim, alguns pacientes podiam rejeitar a opinião destes profissionais, especialmente quando tinham dúvida sobre a competência ou quando o que lhes foi dito era contrário às suas enraizadas opiniões e crenças pessoais.
Fosse para o bem ou para o mal, o que os profissionais diziam aos pacientes parecia ter conseqüências importantes no comportamento destes.
Dentre os exemplos de informações que geravam comportamentos negativos temos a fala de que era "apenas um pequeno estiramento", o que levou o paciente a um cuidado para não forçar a coluna e acabar machucando mais. Outro ficou com medo de se mover para não agravar mais o problema ao "saber" que "a qualquer movimento, uma parte do disco protrude". Disseram também que "devido a hipermobilidade (do paciente) a coluna é instável", que "o problema era devido à postura". Esses exemplos levavam os pacientes a pensamentos e ações negativas em relação ao seu problema, alguns tinham medo, outros consideravam evitar se movimentar. Houve, inclusive, dois pacientes que abandonaram trabalhos físicos devido às explicações que receberam, e uma mulher chegou a abortar a gravidez, pois não aguentaria o peso. Ou seja, o que o profissional fala pode ter um impacto MUITO GRANDE na vida das pessoas com dor lombar.
De forma geral, explicações baseadas na estrutura (tem uma lesão, você estirou a estrutura, o disco está perfurado, o disco protrude), assim como orientações que sugeriram que a coluna era vulnerável (você tem de dar estabilidade pra proteger, você tem de manter a postura "correta") e sugestões pessimistas de expectativas (isso vai voltar a acontecer) tinham um impacto negativo, levando a sentimentos de culpa, preocupação e frustração.
Mas há também os exemplos positivos. Um profissional disse que em 12 semanas o paciente nem iria se lembrar, e este já passou a se sentir melhor. Outros pacientes receberam a informação de que deveriam se movimentar, e dessa forma deixaram de evitar atividades que lhes eram prazerosas, como dançar ou praticar um esporte.
As sugestões otimistas de expectativas (isso vai ficar bom, isso vai melhorar em algumas semanas) e sugestões de se manter em atividade, por outro lado, são as que parecem ter um impacto positivo na vida das pessoas com dor lombar, levando a uma aumento da confiança e uma atitude otimista em relação à atividade física. Porém, foram muito menos frequentes.
Considerações sobre as orientações citadas
Vimos, anteriormente, que em pessoas com dores lombares não temos como relacionar as alterações da estrutura da coluna lombar aos sintomas (aqui e aqui). Ou seja, "informar" ao paciente que a dor está relacionada à estrutura, como foi observado nas entrevistas acima mencionadas, é um equívoco.
Inferir que a coluna é algo frágil, através de falas informações como "precisa de estabilidade" ou outras, não é verídico e, embora as recidivas possam ser relativamente comuns (como vimos aqui), não é possível afirmar que elas vão acontecer. Ao invés de transmitir esse tipo de informações errôneas às pessoas talvez o melhor seja a orientação adequada do paciente em relação ao tratamento (aqui), em relação aos fatores de risco (aqui e aqui) e em relação à prevenção das dores (aqui).
Por outro lado, as sugestões de expectativa otimistas são realmente fundamentadas, afinal há uma melhoria significativa das dores na maior parte dos casos logo nas primeiras semanas (aqui, como citamos) e a orientação de se manter em atividade, ao invés de ficar "de cama" também é considerada correta (aqui).
Considerações Finais
O profissional da saúde que atende pessoas com dores lombares tem uma influência muito grande, maior que outras fontes de informação. As informações que esse profissional transmite podem ter um impacto muito importante na vida dos pacientes. Como vimos, as orientações mais "otimistas" são as mais sólidas do ponto de vista científico e, além de trazerem benefícios aos pacientes evitam, justamente, os malefícios das orientações inadequadas, não embasadas cientificamente. Destaca-se, dessa maneira, a importância de que o profissional que trata pessoas com as dores lombares esteja preparado e cientificamente embasado para realizar os atendimento.
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