Vimos, no último artigo, que pessoas sem quaisquer sintomas apresentam, frequentemente, alterações degenerativas em seus exames de imagem. Estávamos falando de protrusões discais, abaulamentos, artrose facetária, espondilolistese e outras.
O estudo que citamos era uma revisão sistemática da literatura que visava identificar a prevalência desses achados. Ou seja, se pegarmos a população agora, nesse momento, selecionarmos somente os indivíduos assintomáticos,quanto "porcento" de pessoas vão apresentar aquela alteração.
Uma outra forma de investigar se há importância no exame de imagem e na sua relação com os sintomas é avaliar pessoas sem sintomas através do exame de imagem, verificar quais alterações estão presentes, acompanhá-las ao longo do tempo e, naquelas que desenvolverem sintomas, fazer novo exame de imagem e verificar se as alterações aumentaram ou não de tamanho.
Em relação à coluna lombar, até o presente momento, dois estudos foram feitos dessa maneira.
Um desses estudos foi realizado pela Universidade de Washington, nos EUA, e teve como objetivo avaliar que aspectos do exame de imagem ou o exame clínico poderiam prever episódios de dor lombar intensa, sendo que os participantes não apresentavam sintomas inicialmente (1). Ou seja, seria possível identificar as pessoas que iriam desenvolver dores lombares?
Paralelamente a isso, se avaliou também se os achados de um novo exame de imagem, realizado ao final do período de três anos, se relacionavam ao aparecimento de dores.
E o que foi encontrado? Em primeiro lugar, 67% dos indivíduos desenvolveram algum grau de dor lombar (ou dor irradiada), e que a presença de depressão ou sintomas depressivos foi o principal preditor do desenvolvimento de dores nesse período, maior que qualquer alteração observada nos exames de imagem (1). De fato, nenhuma alteração do exame apresentou importância significativa em prever os novos episódios de dor (1). Em relação às eventuais novas alterações do exame de imagem, elas foram pouco frequentes (1), sugerindo a limitada relação entre as dores e as novas alterações.
O segundo estudo foi realizado pela Universidade de Stanford, também nos Estados Unidos (2). Nele, 200 indivíduos sem dores lombares (ou com dores mínimas) realizaram ressonância magnética e foram acompanhados ao longo do tempo. Naqueles que desenvolveram dores lombares incapacitantes, nova ressonância magnética foi realizada para comparação com o exame inicial. O objetivo era verificar se havia relação entre o novo episódio de dor e eventuais novas alterações identificadas no exame de imagem.
Foi observado que nenhuma das alterações do exame de imagem foi capaz de prever, de forma significativa, novos episódios (2). Além disso, nos indivíduos que desenvolveram dores lombares, as alterações observadas no exame de imagem, em sua grande maioria, se mantiveram inalteradas (ou, em alguns poucos casos, diminuíram de tamanho) (2).
Ou seja, parece não haver importância prognóstica da ressonância magnética e o desenvolvimento de dores lombares e, além disso, parece não haver relação entre o desenvolvimento de dores lombares e novas alterações do exame de imagem.
Como relatam os autores de um dos artigos (2), "não está claro o que causa dores lombares na maior parte das pessoas".
Já vimos que pessoas sem sintomas podem apresentar diversas alterações no exame de imagem, e agora vimos que o surgimento de dores lombares parece não ter relação com o surgimento de novas alterações no exame de imagem. Talvez devamos começar a questionar mais a utilidade de se realizar exames de imagem nos casos de dores. No próximo artigo falaremos de uma situação na qual parece haver alguma relação entre o que é encontrado na imagem e a presença de sintomas. Clique aqui para conferir.
Referências Bibliográficas
1. Jarvik JG, Hollingworth W, Heagerty PJ, Haynor DR, Boyko EJ, Deyo RA. Three-year incidence of low back pain in an initially asymptomatic cohort: clinical and imaging risk factors. Spine. 2005 Jul 1;30(13):1541–8; discussion 1549.
2. Carragee E, Alamin T, Cheng I, Franklin T, van den Haak E, Hurwitz E. Are first-time episodes of serious LBP associated with new MRI findings? Spine J. 2006 Dec;6(6):624–35.
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