segunda-feira, 22 de maio de 2017

Exames de Imagem para Hérnia de Disco - parte 1 - pessoas assintomáticas




Se realizarmos um exame de imagem em pessoas sem dor ou sintomas, o que será encontrado nesse exame? Será que, por não ter dor, não haverá alterações? Vamos conferir a seguir!



Para começar responder a essa pergunta, vamos utilizar um estudo feito nos Estados Unidos, pela Clínica Mayo, em Minnesota. Esse estudo foi do tipo que chamamos de revisão sistemática da literatura. E o que esse estudo buscou fazer foi verificar se pessoas que não apresentam queixas ou sintomas apresentam alterações degenerativas na coluna lombar em seus exames de imagem.






E o que é um estudo de "revisão sistemática da literatura"? É um estudo que agrega o que foi observado em diversos outros estudos pra se chegar a uma resposta muito mais consistente e correta. Nas revisões sistemáticas é feita uma análise muito criteriosa de diversos artigos, de forma que somente quando preenchem os requisitos necessários, esses outros artigos têm seus dados utilizados para a síntese da revisão sistemática. De forma simples, é um estudo que os resultados buscam refletir, de forma correta, o que realmente acontece.





--- importante destacar que as alterações degenerativas incluem todas as condições da quais conversamos até agora, ou seja, estamos nos referindo a dores ou sintomas que podem ou não estarem presentes nas pessoas que, eventualmente, tenham as alterações que já discutimos até agora! ---


E o que foi encontrado?

Foi encontrada uma relação entre a idade e a presença das alterações no exame de imagem. Em outras palavras, as alterações avaliadas, em indivíduos assintomáticos, aumentam de frequência conforme se aumenta a idade. Ou seja, quanto mais velho o indivíduo, maior a chance de se encontrar alteração no exame de imagem. Lembrando sempre que estamos falando de indivíduos sem dor, assintomáticos.

Os dados do estudo são apresentados na tabela:






Idade
Achado do exame
20
30
40
50
60
70
80

Porcentagem de pessoas assintomáticas com a alteração
Degeneração Discal
37
52
68
80
88
93
96
Diminuição do Sinal do Disco
17
33
54
73
86
94
97
Diminuição da Altura do Disco
24
34
45
56
67
76
84
Abaulamento Discal
30
40
50
60
69
77
84
Protrusão Discal
29
31
33
36
38
40
43
Fissura Anular
19
20
22
23
25
27
29
Degeneração Facetária
4
9
18
32
50
69
83
Espondilolistese
3
5
8
14
23
35
50


Com base nesses achados, os autores do texto sugerem que, embora devam ser interpretadas dentro do contexto clínico do paciente, "muitas dessas alterações podem ser parte normal do processo de envelhecimento, ao invés de alterações patológicas que necessitem alguma intervenção" (1).

Ou seja, não se deve olhar para o exame de imagem como se ele fosse identificar o que está errado. É possível que sua eventual dor não tenha relação com a alteração que o exame de imagem sugere. Vamos conversar mais (bem mais) a respeito da importância dos exames de imagem, de quando fazê-los ou não fazê-los, de quais as consequências, benefícios e malefícios de se realizá-los.

No próximo artigo veremos o que acontece na coluna (ao se analisar o exame de imagem) quando uma pessoa sem dor desenvolve dor intensa. Será que poderemos observar uma alteração importante no exame de imagem?



Literatura:
1-)BRINJIKI et al - Systematic literature review of imaging features of spinal degeneration in asymptomatic populations - AJNR Am J Neuroradiol, v36 n4 2015.

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