Se realizarmos um exame de imagem em pessoas sem dor ou sintomas, o que será encontrado nesse exame? Será que, por não ter dor, não haverá alterações? Vamos conferir a seguir!
Para começar responder a essa pergunta, vamos utilizar um estudo feito nos Estados Unidos, pela Clínica Mayo, em Minnesota. Esse estudo foi do tipo que chamamos de revisão sistemática da literatura. E o que esse estudo buscou fazer foi verificar se pessoas que não apresentam queixas ou sintomas apresentam alterações degenerativas na coluna lombar em seus exames de imagem.
E o que é um estudo de
"revisão sistemática da literatura"? É um estudo que agrega o que
foi observado em diversos outros estudos pra se chegar a uma resposta muito
mais consistente e correta. Nas revisões sistemáticas é feita uma análise
muito criteriosa de diversos artigos, de forma que somente quando preenchem
os requisitos necessários, esses outros artigos têm seus dados utilizados
para a síntese da revisão sistemática. De forma simples, é um estudo que os
resultados buscam refletir, de forma correta, o que realmente acontece.
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--- importante destacar que as alterações degenerativas incluem todas as condições da quais conversamos até agora, ou seja, estamos nos referindo a dores ou sintomas que podem ou não estarem presentes nas pessoas que, eventualmente, tenham as alterações que já discutimos até agora! ---
E o que foi encontrado?
Foi encontrada uma relação entre a idade e a presença das alterações no exame de imagem. Em outras palavras, as alterações avaliadas, em indivíduos assintomáticos, aumentam de frequência conforme se aumenta a idade. Ou seja, quanto mais velho o indivíduo, maior a chance de se encontrar alteração no exame de imagem. Lembrando sempre que estamos falando de indivíduos sem dor, assintomáticos.
Os dados do estudo são apresentados na tabela:
Idade
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Achado do exame
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20
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30
|
40
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50
|
60
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70
|
80
|
Porcentagem de pessoas assintomáticas
com a alteração
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|||||||
Degeneração Discal
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37
|
52
|
68
|
80
|
88
|
93
|
96
|
Diminuição do Sinal do Disco
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17
|
33
|
54
|
73
|
86
|
94
|
97
|
Diminuição da Altura do Disco
|
24
|
34
|
45
|
56
|
67
|
76
|
84
|
Abaulamento Discal
|
30
|
40
|
50
|
60
|
69
|
77
|
84
|
Protrusão Discal
|
29
|
31
|
33
|
36
|
38
|
40
|
43
|
Fissura Anular
|
19
|
20
|
22
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23
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25
|
27
|
29
|
Degeneração Facetária
|
4
|
9
|
18
|
32
|
50
|
69
|
83
|
Espondilolistese
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3
|
5
|
8
|
14
|
23
|
35
|
50
|
Com base nesses achados, os autores do texto sugerem que, embora devam ser interpretadas dentro do contexto clínico do paciente, "muitas dessas alterações podem ser parte normal do processo de envelhecimento, ao invés de alterações patológicas que necessitem alguma intervenção" (1).
Ou seja, não se deve olhar para o exame de imagem como se ele fosse identificar o que está errado. É possível que sua eventual dor não tenha relação com a alteração que o exame de imagem sugere. Vamos conversar mais (bem mais) a respeito da importância dos exames de imagem, de quando fazê-los ou não fazê-los, de quais as consequências, benefícios e malefícios de se realizá-los.
No próximo artigo veremos o que acontece na coluna (ao se analisar o exame de imagem) quando uma pessoa sem dor desenvolve dor intensa. Será que poderemos observar uma alteração importante no exame de imagem?
Literatura:
1-)BRINJIKI et al - Systematic literature review of imaging features of spinal degeneration in asymptomatic populations - AJNR Am J Neuroradiol, v36 n4 2015.
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